28 de fev. de 2013
Vovó Adila
Avó paterna: Adila, viveu uns noventa anos, mentia a idade. Teve muitos filhos, sete vingaram, e duas irmãs solteironas que também foram nossas avós:
Lourinha (Maria Dolores) e Sinhá Linda ou Lilinda (Olinda), que nomes fofos. Eram bonitas e elegantes. Tinham vestido de festa, o mesmo. Tias Lourinha e Lilinda juravam que nunca tinham dado um beijo sequer num homem, e ficavam fulas se alguém as difamasse alegando o contrário. Envelheceram normalmente porque nunca tiveram pretensão de serem gatinhas, nem mulheres no sentido gostoso da palavra.
Vovó Adila e seu marido Antenor foram muito apaixonados. Ele tocava flauta transversa e fazia belos discursos. Ela fugiu pra casar. Moravam todos em Diamantina. Vovô Antenor, de quem só os filhos mais velhos se lembram, morreu cedo. A familiarada foi toda pra Belo Horizonte. E depois a familiarada toda veio para o Rio de Janeiro. Eu nasci no meio da trajetória, em BH. Hoje em dia, a maioria viva mora no Rio.
Vejamos vovó Adila, pode ser um bom exemplo. Era vaidosa, dava tapinhas barulhentos na face todo dia de manhã no banheiro, bom para a pele, dizia. Não adiantou muito porque me lembro dela toda enrugadinha. Só andava de salto alto e só se sentava em cadeira dura por causa da coluna. Não da dor, mas da elegância. Pintava os cabelos de azul, como era moda, tocava bandolim, gostava de festas e levava a vida. Tinha senso de humor, não tinha paciência pra muitos problemas, preferia as cantorias, compunha músicas e versos. Temos semelhanças: uma vez ela saiu com um sapato diferente em cada pé. Eu já fiz o mesmo, fora outras distrações que merecem um capítulo à parte. Ser distraído pode ser uma boa forma de ausentar-se dos problemas e das chatices da vida. Vovó Adila, ela pode ser uma ideia.
Vovó Adila foi precursora do bisavorismo, muito em voga hoje em dia.
Conheço bisavós inteiraças, que viajam sozinhas pelo mundo todo, ou que cuidam dos bisnetos com a mesma desenvoltura com que cuidaram dos filhos e netos. O curioso é que o surgimento dessa geração da quarta idade não agregou as famílias. Há uma legião de casais com filhotes que se completam e se compreendem como famílias completas.
E uma legião de avós, dos cinquenta aos setenta e pouco, parecendo todas ter a mesma idade. Tenho muitas primas, ótimas minhas primas. E primas das minhas primas. Minha família tem uma coleção de mulheres. Numa festa, um senhor gatoso comentou comigo:
- "Curioso, vocês são tantas primas, e todas da mesma geração".
Fiquei um pouco feliz em nome das minhas primas dez anos mais velhas que eu e um pouco injuriada. Cinquenta ou sessenta, tanto faz hoje em dia.
O Carlos diz que coroa tem que ser limpinho. Digo que coroas têm que ter os cabelos penteados, as pernas depiladas, raspadas, ou enceradas, como queiram, unhas feitas e baton. Em qualquer época da vida, uma mulher deve estar de baton.
Não me envergonho de envelhecer nem luto contra. Posso ser uma idosa bonita, simpática e inteligente.
Posso ser uma boa avó. Uma senhora culta, viajada, de cabelo azul...
Que merda, queria mesmo voltar aos trinta anos, mesmo que fosse feia, antipática e burra.
Mas vamos pular esta parte.
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