Aposentada, eu?

Tânia Horta

Tudo bem, me aposentei. Mas não fiquei velha de um dia para o outro. Apenas me aposentei. Não precisam ratificar. Aliás, se sou velha agora, já o era pelo menos na véspera de me aposentar. Não envelheci de repente como Maria Antonieta porque cá pra nós aposentar não é a mesma coisa que ser condenada à guilhotina.
É quase.
Não preciso entrar na fila dos preferenciais só porque me aposentei por idade ou bota tempo de serviço nisto. Estou em forma e não vou ficar dando mole por aí.
No dia daquele aniversário que, como se não bastasse aposentada, me ingressou na nova condição privilegiada de idoso na sociedade, exatamente naquele mesmo fatídico dia, convencida de que aquele marco nada mudaria para mim, era questão de fórum íntimo, entrei no supermercado na mesma fila dos normais de todos os dias para comprar quitutes e comemorar aquela imemorável data com meus amigos.
“_A senhora pode vir para esta fila.” Me apontou a funcionária para uma mínima fila ao lado.
“Aquela fila de p-r-e-f-e-r-e-n-c-i-a-i-s ? Pensei e olhei discretamente para os lados. Como é possível ficar com cara de idoso já assim no primeiro dia?”
Indignada respondi absolutamente, tinham outras pessoas com carrinhos enormes na minha frente... Por que eu a furar o atendimento dos caixas...
“- Porque a senhora tem menos de dez volumes.”

28/03/2011- Tania Horta