20 de set. de 2010

Vida alheia. Na chapa

Ele tem vinte e quatro anos e trabalha "na chapa". Isso quer dizer  fritando carnes na Churrascaria. Trabalha de quatro da tarde a meia-noite. Só folga segunda-feira. Deixa os dois meninos pequenos com a vizinha e pega de madrugada. A casa onde morava foi levada pela enchente e ele espera na fila de um projeto de casas populares. Teve um filho com a esposa, ela apaixonou-se por um angolano e teve o segundo menino. Partiu com o negro para Lisboa. Ele cuida das duas crianças. O caçula é lindíssimo, dizem, a cara do angolano. Está difícil conseguir passaporte para elas. A ex-mulher quer que ele vá também, mas ele tem medo. A família dele mora muito longe. Ele é mineiro do interior, uma cidade por onde se chega de barco. O único acesso é pelo rio. sem luz elétrica ou telefone. Que dirá internet. Quem sai de barco sai para sempre, não há caminho de volta. Os barcos nunca voltam, só vão. Em Lisboa ouvi uma história muito parecida com esta. Uma mulher apaixonada que havia largado tudo. Não me lembro dos detalhes, não me lembro quem me contou Ouvi a história e fui comer carne para observá-lo. Um rapaz muito jovem, com cara de mineiro que veio trabalhar na chapa no Rio de Janeiro. Não parece um homem que cria dois meninos.

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