9 de ago. de 2011

Goiabada com queijo e amor

Dia 4 de agosto de 2011 meu tio Dirceu fez noventa anos.

Sempre que conversamos mais demoradamente, ele me descreve a mesma cena:
Ele é um menino e está no seminário, única opção para se ter estudo na Diamantina nas primeiras décadas do século vinte.
A tia do menino, com quem ele morava, vai bem cedo levar pra ele goiabada com queijo.
Faz muito frio, ela tem os sapatos poídos e dificuldades financeiras. Queijo era caro.
Sempre que fala desse momento, e ele fala sempre, meu tio se emociona .
Tia Lilinda provavelmente não poderia jamais imaginar que aquela criança, tão criança ainda, percebia nos detalhes do frio, dos sapatos, da simplicidade da sobremesa, os sacrifícios que ela fazia por ele.
O mais forte desta cena não é o amor imenso dessa tia querida pelo seu sobrinho.
O mais forte desta cena é o tamanho da gratidão do menino, um reconhecimento que sobrevive por quase oitenta anos.
Provavelmente ela entregou a ele a sobremesa, deu-lhe um beijo e se foi na neblina da manhã fria e mineira.
Quem sabe, com o tempo, entre tantas passagens da vida, tia Lilinda esqueceu este dia, pois outros dias melhores vieram substituir essa lembrança.
Mas o menino, não. O menino nunca conseguiu esquecer.
Hoje ele tem os cabelos cheios e brancos, e no coração uma gratidão sem limites por este presente: goiabada com queijo, sacrifício e muito amor.

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