Glorinha disse:
Prima Tania:
Temos que escrever as memórias da família!
Se nós não assumirmos tal responsabilidade, toda nossa história vai se perder, e nossos trinetos não saberão por que motivo se emocionam tanto com Luzes da Ribalta, ou de onde vem uma vontade imensa de pagar tudo pra todo mundo.
Papai era igualzinho. Em casa, às vezes a luz era cortada por falta de pagamento. Ele chamava os eletricistas da Firma, mandava fazer um gato no poste e estava resolvido. Mas ai de quem tentasse rachar a conta com ele.
E tio Dirceu idem.
Em Diamantina ele se sente o Rei da Família Real. A maneira com chama os garçons, como fala com o porteiro e com qualquer um : Eu sou o Desembargador Dirceu de Vasconelos Horta, que vou ser agraciado com a medalha JK, nasci em Diamantina, conheço cada rua, cada beco, mas ali adiante me parece que houve uma modificação. A senhora poderia me informar onde fica a Rua Tal?
Depois de algumas horas, eu estava igual: Boa tarde, Sou Maria da Glória de Menezes Vasconcelos Horta, sobrinha do Desembargador Dirceu de Vasconcelos Horta, que vai ser agraciado etc....
A gente pega o jeito fácil...
No almoço o garçon caiu na besteira de dizer pro tio Dirceu que não tinha toucinho. Ele se levantou, empinou a cabeça e dirigiu-se resoluto à cozinha. Tia Elita, Márcia, Maria Ângela e Ricardo tentaram contê-lo. Tia Elita: Calma, Dirceu!
Daqui a pouco ele volta e pisca pra mim, satisfeito. Onde já se viu Minas não ter toucinho? E vem acompanhado do garçon com um verdadeiro balde de toucinho que, confessaram, estava reservado para o governador.
Difícil acompanhar tio Dirceu. Empadas, pasteizinhos e toucinho com uísque antes do almoço, muito papo e muita comida, muito tira-gosto. Depois do almoço meus olhos estão fechando. Mas não os dele. Vamos passear de carro com o Ricardo! (Ele não con-vida, co-manda!) Na volta do passeio mais uísque, mais salgadinhos. Depois do jantar ele quer sair. Ninguém acompanha? Márcia diz: Papai, vamos dormir. Ele responde, furioso (sabem ser furiosos):
- Eu não vim à Diamantina para dormir! Quero sair! Ver gente! Rever amigos! Conversar com as pessoas!
Ninguém segura. Chama o motorista e vai rever os amigos.
Tania, você ia gostar de ir de novo à Diamantina. Lá, somos todos primos. Entrei numa loja pra comprar uma lembrancinha e, assim que tive oportunidade, falei para a vendedora: Meu nome é Horta. Glória Horta. Ela respondeu, desanimada: Ah, é uma família grande daqui.
Pergunto, olhando-a de cima a baixo: Você nasceu aqui?
Claro que não. Tinha vindo de fora. Quem nasce em Diamantina é nosso primo.
Na feirinha de domingo, dancei com um animado entre os violões da pracinha. Depois da contradança, eu me apresentei: Meu nome é Horta. Esse, sim, nasceu na cidade. Horta? Eu sou o Fulaninho, casado com a Fulana, mãe da sobrinha da tia-avó do primo do Juscelino, enteada, inclusive, do Sicrano Brant. Somos primos, ELE conclui!
Em Diamantina, ser Brant ou ser Horta dá no mesmo. Desde o século XVI essas duas famílias vêm se casando. Assim como os Horta, os Alves e os Menezes. Sandra disse que somos endogâmicos.
Conheci um Brant no Facebook e perguntei se ele era mineiro, e, portanto, meu primo.
Ele disse que não secamente. Em três minutos mandei pra ele a descendência completa de da irmã de Umbelina Horta, aquela nossa parenta que teve a Ignacinha com D. Pedro I. Ele me respondeu que levou um susto quando abriu a mensagem e deu de cara com seus antepassados todos.
Nossos antepassados, corrigi.
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